Thiago Simões Leite, da Medplus, explica como o cuidado com o corpo clínico impacta na segurança do paciente e a sustentabilidade do sistema de saúde.
O debate sobre saúde mental no ambiente de trabalho ganhou contornos de urgência na área da saúde, onde os profissionais da linha de frente enfrentam uma rotina de alta pressão, longas jornadas e forte carga emocional. Para Thiago Simões Leite, médico e gestor à frente da Medplus — empresa especializada na gestão e terceirização de equipes médicas —, o tema deixou de ser uma questão individual para se tornar um desafio estratégico para a gestão hospitalar em todo o país.
“Observar o esgotamento de colegas é uma realidade que me acompanha desde a residência. Hoje, como gestor, entendo que ignorar esse cenário vai além do bem-estar do médico e compromete a qualidade do atendimento e a segurança do paciente”, afirma Leite.
A avaliação é validada por dados recentes A pesquisa Demografia Médica no Brasil 2023, realizada pela Faculdade de Medicina da USP com apoio do Conselho Federal de Medicina (CFM), revelou que quase 60% dos médicos brasileiros apresentam sintomas de esgotamento profissional, a Síndrome de Burnout. O estudo aponta que, entre os médicos com até 39 anos, um em cada quatro já recebeu diagnóstico de depressão.
Outra pesquisa, conduzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) durante a pandemia, mostrou que cerca de 45% dos profissionais de saúde, incluindo médicos, buscaram ajuda psicológica e 19% consideraram deixar a profissão devido ao estresse. Esses números indicam uma crise sistêmica que, segundo Thiago Simões Leite, exige ação imediata.
“Não podemos mais tratar o burnout como um problema individual de resiliência. É uma falha sistêmica que decorre de escalas de trabalho extenuantes, falta de recursos e uma cultura que, por muito tempo, normalizou o sofrimento como parte do ofício”, pontua o gestor da Medplus. “O médico que cuida precisa também ser cuidado pela instituição onde atua.”
A Medplus, que atua preenchendo lacunas de especialistas em hospitais da rede pública (SUS) e privada, observa o impacto direto de uma gestão de pessoas deficiente. A alta rotatividade de profissionais e a dificuldade em reter talentos são, muitas vezes, sintomas de um ambiente de trabalho que não oferece o suporte necessário.
Olhar humanizado
Thiago Leite acredita que a mitigação do problema passa por uma mudança de cultura organizacional, liderada pela gestão hospitalar que precisa ter um olhar humanizado. Ele aponta algumas frentes de atuação que podem ser adotadas nas unidades.
- Controle de escalas: planejamento de jornadas que permitam descanso adequado, evitando dobras excessivas e garantindo previsibilidade.
- Canais de apoio: implementar programas de apoio psicológico e canais de escuta confidenciais e acessíveis.
- Treinamento de líderes: capacitar coordenadores de equipes para identificar sinais de esgotamento e promover um ambiente de diálogo e segurança psicológica.
- Otimização de processos: é importante reduzir a carga burocrática e otimizar fluxos de trabalho para que o médico possa se dedicar ao cuidado ao paciente.
“Nosso trabalho na Medplus é entender as necessidades do hospital e do médico para criar uma sinergia que beneficie a todos, principalmente o paciente. Uma gestão inteligente de pessoas é a base para um cuidado em saúde de excelência e humanizado”, resume Leite.